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fevereiro 23, 2013

A última vez que eu tirei férias foi em agosto de 2009. Tudo bem, no final de maio de 2011 ganhei uns 15 dias de folga que renderam minha viagem à Europa, mas não foram exatamente férias completas. Tudo isso pra dizer que neste sábado embarco para uma viagem de um mês pelos Estados Unidos, nas segundas férias remuneradas da vida adulta (abração, Getúlio!).

Com isso, resolvi retomar o blog pra fazer um registro desse tempo na estrada. Não é nada profissional nem pretensioso, mas vai servir pra documentar esse tempo até para mim e facilitar o envio de notícias para quem fica – além de já ficar como um guia para quem quiser fazer algo parecido.

Para começar, o roteiro. A ideia inicial da viagem era viajar no final de janeiro, encerrando em Punxsutawney para comemorar meu aniversário num estilo Phil. Como não rolou tirar as férias nessa época, o plano mudou para conseguir estar em Austin para o South By Southwest – que eu cubro para o Scream & Yell com textos diários. Daí para frente, foi só desenhar as cidades que eu queria visitar.

Nova York era obrigatória, assim como a Califórnia. Como eu vou para o SXSW e os artistas que eu mais queria ver (Wilco, Neil Young, Bruce Springsteen, Grandaddy, Afghan Whigs) não estarão em turnê pelos EUA nessa época, shows acabaram ficando em segundo lugar no desenho da viagem – o único confirmado fora do festival é o Bob Mould no Bowery, em NY.

Viciado em NBA que estou, consegui agendar três jogos por enquanto: um Memphis Grizzlies contra o Brooklyn Nets logo no segundo dia de viagem, um clássico Chicago Bulls e Los Angeles Lakers em LA e uma passada rápida por San Antonio para ver a reedição da final do Oeste da última temporada com Oklahoma City Thunder e San Antonio Spurs um dia antes de ir para Austin. Talvez ainda role mais um, ou em Memphis ou no último dia da viagem, no Madison Square Garden – afinal, é complicado não ir ao provável maior templo do basquete.

Até cogitei subir a Lexington, Kentucky, na última semana, para ver uma partida dos playoffs da NCAA, o campeonato de basquete universitário, mas Memphis falou mais alto. A última parte da viagem fica concentrada no Tennessee e vai render muita história da música, com Graceland, os estúdios da Sun Records e o museu da Stax. Fora Nashville, que se tornou uma obsessão graças à série de mesmo nome – um beijo, Connie Britton.

Abaixo o roteiro:

23 e 24 fev – Nova York
25 fev – Filadélfia
26 fev – Washigton
26 fev a 3 mar – Nova York
3 a 7 mar – São Francisco
7 a 10 mar – Los Angeles
11 mar – San Antonio
12 a 17 mar – Austin (South By Southwest)
18 e 19 mar – Memphis
20 a 22 mar – Nashville
23 mar – Nova York
24 mar – São Paulo

Das coisas importantes que aprendi na faculdade

abril 25, 2012

Em uma das reuniões de TCC com a minha orientadora, contei que o personagem do meu perfil tinha um bife batizado em sua homenagem em um restaurante de São Paulo. “Você tem que comer o bife! Com ele!”, me disse ela. “Está aí seu lead.”

Lembrei, na hora, da forma que o garçom do restaurante em que comemos ostra, em Santo Antonio de Lisboa, no norte de Floripa, despediu-se de meu entrevistado: “prazer em te conhecer.” Mencionei o fato à minha orientadora e, naquele momento, sabia que tinha minha última frase. “Pronto, você tem o início e o fim. O resto é fácil.”

No começo, não acreditei. Hoje, porém, nunca me sinto tão em paz quando sei como começar e fechar um texto.

Levon Helm perdendo a batalha contra o câncer: ao mestre com carinho

abril 17, 2012

Tá no Facebook e no site oficial. Gênio, em uma única palavra (veja o vídeo a partir de 30’17”).

Sobre trilhas sonoras pessoais

dezembro 3, 2011

Se, em um sem número de anos, algum pesquisador da história da música brasileira perguntar, com curiosidade genuína, “qual foi a melhor coisa que aconteceu em 2011 no país?”, a resposta certa será, sem dúvida, Pedro Bonifrate.

Para os incautos, no entanto, é importante salientar que Bonifrate não é novidade. Na ativa desde a primeira metade da década passada, ele é líder do Supercordas, uma das bandas mais engenhosas e inventivas de nosso tempo. Tampouco seu “Um Futuro Inteiro”, grande álbum de 2011, é artigo novo: o cantor possui uma prolífica produção solo, paralela à banda, que reúne dois álbuns e um infinito de canções.

(“Apenas o Fim”, estreia de Matheus Souza na direção e espécie de filme da geração Los Hermanos, possui duas músicas de Bonifrate. “Unicórnio em 2D” e “Rumo à Lua”, intercaladas em momentos chaves da trama, funcionam tão bem quanto a música dos próprios Hermanos que fecha a película).

Mas se as tintas oníricas da psicodelia dão o tom do trabalho na banda, quando solo Bonifrate se desenha mais cru e natural, com um pé e meio no folk. No entanto, convém avisar: sim, há influência de Dylan, principalmente nos primeiros discos, mas para entender “Um Futuro Inteiro” é necessário mirar mais ao nordeste do Brasil e encontrar Belchior.

Bonifrate é um tipo de compositor raro nos dias de hoje: aqueles que não encerram um único significado em cada canção. “Um Futuro Inteiro” é, em sua gênese, um disco sofrido de amor, mas poderia muito bem ser a trilha sonora da Primavera Árabe, por exemplo. Uma “Farsa do Futuro Enquanto Agora”, como diz o título de uma das composições. Em toda sua carreira, Bonifrate se vale de imagens abstratas para criar metáforas universais, trilhas sonoras pessoais.

A síntese da safra atual está em “Cantiga da Fumaça”, música de “Um Futuro”. Partindo de terra arrasada (“as ruas andam vazias, o bonde sem condutor”), Bonifrate cria em quase seis minutos um hino de renovação pessoal e coletiva. Se há quem diga que não existe amor em SP – ou em qualquer outro lugar -, o cantor propõe aqui uma alternativa: pega tudo que quiser, guarda na memória e se una com sua gangue de almas destemidas. É hippie ao extremo, mas de forma natural.

“Cantiga da Fumaça” tem a aura daquelas canções que encerram ciclos. Culpa, talvez, da simplicidade do aranjo, levado por um violão lento e pontuado por frases longas e sentimentais de harmônica. Soa como Dylan em 65 com “Like a Rolling Stone”. Não que Bonifrate tenha tais pretensões, e nem é o caso de se ater ferrenhamente à comparação. A época é de revoluções pessoais, íntimas, particulares. Exatamente como sugere a canção.

A foto é da Katia, lá do Flickr da Alavanca

Download – Passo Torto

novembro 8, 2011

Como diria o Faustão, só tem fera. O Passo Torto é um projeto de Rômulo Fróes, Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral, todo responsáveis, direta ou indiretamente, por alguns dos melhores trabalhos lançados em São Paulo nos últimos anos. Para baixar, só clicar aqui. Vale a pena.

Planeta Terra 2011: uma cobertura 80% pessoal

novembro 7, 2011

No ano de seu melhor headliner, o Planeta Terra teve sua pior edição. Quando a organização anunciou o Strokes como atração, tudo fazia sentido. Sim, Iggy Pop, headliner de 2009, é melhor que Julian Casablancas e cia., mas a escalação do tiozão punk ficou meio deslocada em um festival que desde o começo se anunciou indie.

O Terra sempre apostou forte nas bandas pós-2001: Kasabian e Kaiser Chiefs fecharam as duas primeiras edições, Bloc Party e The Rapture deram as caras. Como já perdera as duas maiores bandas da geração fora o Strokes – Franz Ferdinand e Killers -, trazer os nova-iorquinos em ano de disco novo e de comemoração de uma década de “Is This It” parecia perfeito.

E, de certa forma, era perfeito em abril, quando foi anunciado. Os ingressos foram à venda, esgotaram em menos de um dia e então, meio que de repente, tudo mudou. “Angles” se provou um disco fraco com apenas uma grande canção (“Under Cover of Darkness”), os shows lá fora não corriam tão bem e o clima entre o grupo não parecia dos melhores – os relatos eram de uma banda apática, fraca no palco. À boca pequena, mensageiros do apocalipse espalhavam a palavra: seria sorte se o Strokes chegasse vivo ao Terra.

Para (não) ajudar, o line-up de apoio foi ruindo antes de tomar cara. O Vaccines, “the next big thing” dos primeiros quatro meses do ano, cancelou o show para sair em turnê com o Arctic Monkeys. O Beady Eye, carregando o sobrenome Gallagher na credencial, não sustentava nem meio hype com as canções fracas de “Different Gear, Still Speeding”. E isso que Noel, o irmão talentoso, só foi lançar o grande “High Flying Birds” em outubro.

Festival com DNA indie, o Terra parecia perdido a cada nova atração anunciada. A ousadia dos anos anteriores sumiu exatamente no ano em que deveria ter sido mais forte. Com a lotação máxima garantida no primeiro dia de vendas, era a hora de fechar bandas que agregassem credibilidade entre um público notoriamente chato e que adora xingar muito no Twitter para seus 500 seguidores – e não de trazer o cadáver do Interpol.

Para um festival que teve em todos anos pelo menos um heroi do indie tradicional (Devo, Breeders, Jesus & Mary Chain, Sonic Youth, Pavement), deixar a tarefa nas costas do Broken Social Scene é sacanagem. O grupo fez um bom show, mas a volta do Pulp, a teatralidade de “Let England Shake”, da diva PJ Harvey, ou mesmo o Blondie (todos na bolsa de apostas que antecedia cada nova atração) teriam feito melhores. E olha que nem estou contando o Arcade Fire – a vinda desses merece um texto próprio.

O palco indie, que era outro trunfo do festival, também ficou aquém do normal. Para quem já trouxe Animal Collective (um dos piores shows da minha vida, mas mesmo assim relevante), Spoon, Passion Pit e Yeasayer, se apoiar apenas no Gang Gang Dance e no Toro Y Moi é muito pouco.

E aí, contrariando todas as expectativas, o Strokes veio e salvou o Planeta, como disse o Lúcio. Banda com tesão no palco, tocando alto, deixando o disco novo de lado, apostando nos hits e lembrando como o “Room On Fire”, meio esquecido, é legal pacas. Tá, o Julian patinou feio na afinação em mais de uma música, mas a simpatia compensou.

Afinal de contas, o show do Strokes é para dançar, para sentir. Se você fica pensando demais durante, algo está errado. Assisti à apresentação lá de trás, perto da saída, para evitar a muvuca pós-final. Foi legal ver a pista se enchendo aos poucos, com o povo chegando correndo dos brinquedos e do outro palco trazido por músicas como “Someday” e “12:51”. Ou então o oceano de mãos esticadas e pulando durante “Reptilia”.

Me fez entender porque eu gostei tanto do show da banda em 2005 em Porto Alegre. Apesar do Arcade Fire ter me deixado de queixo caído naquela noite de 25 de outubro, eu pulei como nunca com a então nova “Juicebox”. Porque tudo tinha frescor: depois de 18 anos morando no interior eu fazia faculdade, ia aos meus primeiros shows internacionais, aquele clichê de achar que tinha a vida pela frente.

Olhando aquele mundo de gente pulando eu senti uma ponta de inveja. Cantei alto, dancei um pouco, esperei até “Hard to Explain”, a melhor, desde sempre. Seis anos, uma formatura e uma mudança se atropelaram, porém, e a posição estratégica que escolhi no Playcenter diz muito sobre como tudo mudou. Continua divertido, só que de forma bem diferente. Só experimentar aquela sensação antiga já é bom, pelo menos por uma hora.

Mesmo com o showzão do Strokes, talvez pela primeira vez o Terra tenha tido saldo negativo. A organização continua perfeita – o clima de parque é ótimo, os preços são honestos, as filas amigáveis – mas o line-up que antes tinha pelo menos três coisas legais para qualquer pessoa esse ano deu poucas alternativas. Com a possibilidade de venda do terreno do Playcenter, ano que vem o festival pode mudar de lugar de novo. Vai carregar quatro anos de saldo positivo ainda como garantia, mas não pode bobear pelo segundo ano seguido.

Nevilton lança “De Verdade”

outubro 20, 2011

O Nevilton lançou nesta quinta-feira (20), no Album Virtual da Trama, seu primeiro CD, “De Verdade”.  Tive o prazer de assinar o release do disco, reproduzido abaixo. Clica aqui e baixa de graça, vale muito o download. Para quem é de São Paulo, tem show amanhã, sexta, no Studio SP dentro do Cedo e Sentado. O show tá previsto para as 22h e o ingresso é R$ 20 (ou R$ 10 na lista).

Há algo de especial no espírito das cidades do interior do Brasil. As tardes e noites tranquilas, sem nada para fazer, que levam os jovens a saírem de casa e gastarem o tempo sentados nas esquinas, jogando conversa fora ou tocando violão são um bom exemplo. Sem maldade aparente, passar noites de frio se aquecendo ao relento à base de um conhaque qualquer ou fazendo um churrasco com os amigos é uma arte que exercita a sociabilidade e simplicidade. As pessoas parecem inocentes, mas não menos felizes.

Umuarama, no noroeste do Paraná, é uma dessas cidades. Com cerca de 100 mil habitantes, ela também é o berço da banda Nevilton, power trio de rock simples e direto que lança seu disco de estreia, “De Verdade”, pelo selo Sombrero/Fora do Eixo Discos e pelo Álbum Virtual da Trama. Formada por Nevilton Alencar (voz e guitarra), Tiago Lobão (baixo) e Flipi Stipp (baterista), a banda é fruto direto de sua cidade natal , traduzindo, de certa forma, este espírito lúdico em canções.

Na estrada desde 2007, o Nevilton já fez mais de 250 shows, cobrindo todas as regiões do Brasil. Fosse em mega palcos como a abertura para o Green Day em São Paulo ou em pequenos botecos de Porto Velho, em Rondônia, a energia e a entrega eram as mesmas. Não à toa, a banda ganhou a fama de ter um dos melhores shows do Brasil. Pelo caminho, além das milhagens, deixaram uma coletânea de canções distribuídas em um CD-R e um EP, “Pressuposto”, lançado no ano passado. Faltava um registro oficial completo para encerrar o ciclo.

Gravado em 2009 no estúdio da YB, ainda com o baterista Fernando Livoni, “De Verdade”, o disco, soa como um greatest hits para quem acompanha o cenário independente brasileiro nos últimos anos. “Pressuposto”, “A Máscara”, “Bolo Espacial”, “Me Espere Menino Lobo”, “Vitorioso Adormecido” e algumas outras são velhas conhecidas do público. Entre as novidades, destaque para o riff nervoso e tenso de “Por Um Triz” e “Fortuna”, que desaba em um samba meio torto e relaxado.

Honrando a tradição de bons power trios da história do rock, o Nevilton produz um som coeso e explosivo, característica que fica nítida ao vivo. Apoiando-se em uma cozinha segura e que não deixa espaços sonoros a serem preenchidos, a banda faz uma cama perfeita para a guitarra de Nevilton, um dos melhores instrumentistas do Brasil. Seu jeito de tocar único alterna riffs, bases e solos de forma tão natural quanto apertar um botão de liga e desliga.

Há, no entanto, na fórmula sonora do trio algo um pouco diferente. Nevilton é rock sem ser carrancudo, com assinatura tupiniquim da melhor estirpe. Não porque emule regionalismo em todas as músicas, mas porque se utiliza dos elementos da música brasileira para emoldurar canções pop assobiáveis. Sem vergonha de citar Tião Carreiro e Pardinho, forrozeiros, Placebo e Sidney Magal nos shows, eles incorporam as mais difusas inspirações em músicas de três ou quatro acordes. Coisa de quem cresceu ouvindo muita rádio no interior – e, mais tarde, montou sua primeira banda para tocar cover das músicas que sua turma gostava.

O resultado são rocks que, por mais que entortem sua harmonia com acordes dissonantes e quebradas de ritmo, mantém uma veia pop indiscutível. É música de apelo radiofônico sem ser vulgar, pop-rock inteligente de fácil assimilação sem ser rasteiro. Unido ao carisma da banda, não é de se espantar que, independente do tamanho da plateia, após alguns minutos de show qualquer público esteja domado e repetindo as letras.

Quase quatro anos se passaram desde a formação da banda e o maior cartão de visitas do Nevilton, porém, continua sendo “Paz e Amores”. “Viver em paz, com quem quer que seja, ouvindo música e bebendo cerveja, essa é a vida que eu pedi para Deus, só isso e nada mais”, diz o refrão. Apesar de mirar alto com sua proposta sonora, Nevilton sabe que a felicidade está nas pequenas coisas. Como um verdadeiro operário da música, ele tem trabalhado nos últimos anos em busca do sucesso, em um esquema de guerrilha. Chegou a hora de colher os resultados. Ouça o disco, vá ao show. Você não se arrependerá.

Bloco do Eu Sozinho

outubro 17, 2011

Aí o tal projeto do Barba tocando o Bloco que eu falei semana passada tocou em São Paulo pela primeira vez. A parada é meio picareta – o Rodrigo, vocalista, erra a entrada de umas duas músicas, o Melvin, no baixo, errou umas mudanças de acorde -, mas é válida. Afinal, se tanta gente monta banda pra fazer cover de terceiros, por que o Barba não pode homenagear a banda que fez parte?

Justiça seja feita: a proposta é seguida à risca. A banda toca o “Bloco do Eu Sozinho” na íntegra e depois emenda umas covers da época da turnê do disco e algumas da estreia – “Anna Julia” entre elas. Nada do “Ventura”, nada do “4”. Faz sentido em um show de comemoração de 10 anos de um disco.

Foi uma noite bem agradável, até porque parecia um show do Los Hermanos das antigas: povo cantando tão alto quanto a banda, pulando, vibrando, aquela comoção tradicional que eram as apresentações do quarteto. E o Barba continua tocando muito. Ou seja, se você curte Los Hermanos, é diversão garantida.

Novos adultos, pessoas velhas?

outubro 15, 2011

Estava lendo um post lá no Febre Alta quando bateu aquela vontade, por motivos óbvios, de ouvir Walverdes. Fui direto no “Anticontrole”, não sem antes dar aquela paradinha pra curtir o esporro urgente de “Câncer”. Guitarra no talo é bom pra dar uma animada numa tarde chuvosa de sábado.

Foi quando eu me liguei que o Walverdes não fez nenhum show decente de lançamento do “Breakdance”, de 2010, em São Paulo. Eu lembro que eles tocaram em algum lugar tosco em um dia de semana que não deu público (Outs, muito provavelmente), não gostaram nada da apresentação e queriam voltar. Desde então, Mini (guitarra e voz), Patrick (baixo) e o Marcos (bateria) ainda não pisaram em um palco de São Paulo (o Marcos pisou, mas foi com a Bidê, o que é outra história).

Fuçando no YouTube eu achei o vídeo que abre o post, gravado pelo Palugan num show de novembro de 2005. “Playback”, o quinto disco da banda, tinha sido lançado em setembro do mesmo ano. Eu não estava lá (ainda fazia faculdade em Floripa), mas pelo que dá pra perceber tinha uma galera assistindo na primeira fila (já reparou como ninguém mais fica na beira do palco vendo show em São Paulo?), curtindo e cantando junto.

Por que em 2005 o Walverdes fez um show de lançamento decente em São Paulo e em 2010 não? “Breakdance” saiu pela Monstro, teoricamente maior gravadora independente do Brasil. Quem mudou: o público? A banda (apesar de não terem limpado o som)? Os produtores? Ou todo mundo? De certa forma, como disse uma amiga, é bem difícil envelhecer no rock.

Lembrei na hora da nova coluna do Álvaro na Folha. Sem entrar no mérito musical, o APJ foi certeiro na resposta à matéria da própria Folha. Entre outras coisas, o Álvaro fala sobre o circuito de shows independentes em São Paulo e no Brasil. Pegando o exemplo do Walverdes, me parece que hoje em dia pouca gente no meio arrisca algo. Vivemos num cenário conservador, cheio de novos adultos.

Eu sei que quando se mexe com dinheiro, principalmente o do próprio bolso, a coisa é complicada. Tive uma curta carreira de produtor em Floripa. O primeiro show deu lucro de R$ 800, o segundo prejuízo de R$ 1 mil. Antes que a conta ficasse mais vermelha, percebi que aquela vida não era pra mim. Não sou arrojado no que diz respeito a finanças. Parei de mexer com produção e fui cuidar da carreira como jornalista, mas sem sair da área.

Para mim, trabalhar com produção é um jogo arriscado. No começo você vai tateando, lucra num dia, perde no outro, e assim vai aprendendo com os erros. É uma aposta, principalmente se você não tem grana sobrando, mas acredito que com competência, um bom tino comercial e, claro, sorte (porque ninguém chega a lugar algum sem um pouco dela), mais cedo ou mais tarde é possível se dar bem no ramo.

Aí é que a porca torce o rabo, com o perdão do bordão clichê. Uma vez estabelecido, você pode continuar fazendo algumas apostas ou simplesmente trabalhar com o que sabe que vai dar dinheiro. Meu lado esquerdinha já se foi há um bom tempo para condenar quem opta pela segunda opção: vivemos no capitalismo e, bem, se o seu negócio é ganhar dinheiro e você sabe como, não há nada de errado. É só não querer passar por vanguarda.

O Walverdes, formado em 1993, é representante de uma outra geração, quando a estrutura do indie era diferente e mais precária – a rede de festivais independentes, por exemplo, era bem menor. Continuam lançando discos, fazendo alguns poucos shows, mas já assumiram a vida fora da música como a principal. De certa forma, dá para dizer que o único sobrevivente dessa turma é o Autoramas, que continua vivendo só de música desde os anos 90.

É óbvio que o tema é mais complexo, profundo e não se encerra neste texto – envolve formação de público, por exemplo -, no do Álvaro ou no da Folha, mas uma pergunta fica: agora que a estrutura do cenário melhorou, quantos artistas dessa geração vão sobreviver pelos próximos 15 anos?

“Como confiar em alguém que só fala de trabalho?
Que descobre bossa nova e se acha muito cool
Que nunca entende por que ando descabelado
Gasta em decoração em vez de comprar discos legais

Novos adultos, pessoas velhas”

A grande chance de Rodrigo Amarante

outubro 10, 2011

É engraçado que gostar de Los Hermanos hoje em dia tenha virado quase uma vergonha. Perceba em qualquer conversa que aborde o grupo e que envolva mais dos que quatro ou cinco pessoas: automaticamente os detratores falarão mais alto, ridicularizando a banda e seus fãs fiéis. Será inevitável que os dois ou três que gostem do quarteto a defendam, mas geralmente sem muita convicção. Uma situação que pode mudar com o provável lançamento do disco solo de Rodrigo Amarante em 2012.

Convenhamos, no entanto, que nos últimos anos os fãs de Los Hermanos não têm realmente muito do que se orgulhar. “4”, derradeiro disco da banda, era extremamente irregular e mostrava a dupla central criativa cada vez mais distante: enquanto os bons momentos vinham do ensolarado Amarante – como em “O Vento” -, Camelo estava cada vez mais introspectivo – como em “Dois Barcos”. O abismo era tão aparente que os próprios perceberam e, ao se unirem para gravar o quinto disco, em 2007, preferiram separar a banda por tempo indeterminado a lançar um trabalho ruim.

Cada um seguiu seu caminho sem ressentimentos e mantendo a amizade – os shows de reunião, tanto no SWU como abrindo para o Radiohead, mostram isso. Camelo demorou um pouco, mas lançou seu aguardado primeiro disco solo, “Sou”, que comprovou o que todos temiam: as músicas eram ainda mais arrastadas e herméticas que as composições do “4” – em outras palavras, era um disco chato. Ele ainda lançou um MTV Ao Vivo que ninguém deu bola e veio com “Toque Dela”, um álbum mais fácil, porém esquecível, no início deste ano. Por mais que ainda mantenha sua relevância na música nacional, Camelo foi mais importante no noticiário nestes anos fora do Los Hermanos devido às comparações com Polanski.

Amarante, artisticamente, também não fez muita coisa. Lançou um disco com a Orquestra Imperial e um com o Little Joy, além de manter viva sua colaboração com Devendra Banhart. Nada que realmente demonstrasse a que veio: “Carnaval Só Ano que Vem”, o registro da Orquestra, é um belo disco, mas resultado de um enorme trabalho coletivo; “Little Joy”, a parceria com o baterista do Strokes Fabrizio Moretti, une um monte de musiquinhas bonitas e agradáveis, mas completamente inofensivas.

O disco que deve sair em 2012 é, de fato, o momento em que Amarante mostrará finalmente suas ideias musicais. Não adianta especular sobre como o disco virá: os trabalhos pós-“4” pouco trazem pistas estéticas atuais de Amarante. De acordo com o Mauricio Valladares, no programa Ronca Ronca da OiFM, o cantor volta ao Brasil no início do ano que vem e deve liberar o disco em março. Uma vez anunciado, porém, ele já se torna um dos lançamentos mais aguardados de 2012.

Afinal, por mais que hoje o grupo seja ridicularizado por seus detratores, o Los Hermanos é a banda mais importante da década 00 no Brasil. Excluindo Emicida, os tecnobregas e o CSS e seus sub-filhotes, absolutamente todo mundo que surgiu no cenário independente após 2001 deve algo ao Los Hermanos. “Bloco do Eu Sozinho” é um marco histórico: foi o disco que fez toda uma geração perder a vergonha de ouvir samba e música popular brasileira.

A revolução involuntária hermânica só foi possível, é óbvio, porque tanto “Bloco” quanto o disco seguinte, “Ventura”, eram duas obras sensacionais – o disco de estreia, homônimo e mais esporrento, também é brilhante –, unindo lirismo com peso e vigor, melodias doces com letras acima da média. Além disso, souberam criar uma relação íntima e direta com o público, uma equação que gerou fãs tão fieis que as apresentações da banda sempre foram marcadas pela plateia cantando mais alto que a banda.

O culto ainda existe. No show do SWU do ano passado, mesmo separados do palco pela área VIP os fãs se faziam escutar durante músicas como “O Vencedor” e “Cara Estranho” – os confetes e serpentinas usuais foram poucos, mas estiveram presentes. A claudicante apresentação de Camelo no Rock in Rio deste ano só foi salva por “Além do que se Vê”, uma das grandes músicas de “Ventura”. E, desde o começo do ano, Rodrigo Barba tem tocado o “Bloco” na íntegra com uma banda que inclui os metais da época dos Hermanos e Gabriel Bubu, que acompanhava a banda, na guitarra. Os relatos são de que shows no Teatro Odisseia, no Rio, têm filas enormes do lado de fora. Quem não consegue entrar fica cantando na porta, junto – o vídeo abaixo mostra um pouco da comoção.

Depois do estouro de “Anna Julia”, o Los Hermanos nunca voltou a ser mainstream, mas se tornou a maior banda do underground, sendo responsável direta pelo aumento de público dele. Durante uma conversa no ano passado, Fabrício Ofuji, produtor do Móveis Coloniais de Acaju, comentava a ausência do Los Hermanos do cenário. “Teria sido melhor se eles tivessem continuado, muita gente parou de ouvir coisas novas quando eles acabaram”, disse, frente à questão de se o Móveis teria “herdado” muitos fãs do quarteto.

Muito se questiona hoje sobre qual o próximo estágio da atual geração do independente brasileiro. Há uma percepção de que o público existe, mas a pergunta é: o tamanho da cena e a popularidade dos artistas são suficientes? Ou é necessário um passo adiante em termos de visibilidade? Mais ainda: como dar esse próximo passo em busca de um público maior? Dependendo da qualidade e do desempenho, talvez a resposta para o dilema esteja no disco solo de Amarante.

As fotos do show do Los Hermanos no SWU são da Liliane Callegari